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Rumo à cura da Aids, pesquisadores encontram o “esconderijo” do HIV em animais

Filó Notícias by Charles Araújo

No mundo todo, são cerca de 38 milhões de pessoas infectadas com HIV, vírus responsável pela Aids, segundo o último relatório da UNAIDS. Para essas pessoas, a terapia anti-retroviral é um dos melhores tratamentos disponíveis, já que ela mantém o HIV em níveis indetectáveis no sangue, mesmo que não o elimine por completo. Agora, cientistas norte-americanos podem ter feito uma descoberta capaz de revolucionar esses tratamentos. 

Durante a terapia, que é contínua (e para a vida toda), o vírus continua presente em alguns tipos de linfócitos — células de defesa do organismo que pertencem ao grupo dos glóbulos brancos —, em estado de latência ou repouso. Em outras palavras, o vírus permanece no organismo, mas sem provocar manifestações clínicas.

Isso porque o sistema imunológico não consegue reconhecer essas células infectadas em estado de latência e, até agora, nenhuma terapia foi capaz de fazer isso, nem indiretamente. Isso significa que quando o tratamento anti-retroviral é interrompido, as cargas virais voltam a subir no sangue do paciente. 

É por isso que as pessoas com HIV devem tomar sua medicação continuamente, e esse reservatório latente é considerado o maior obstáculo para a cura. Com o novo procedimento, os pesquisadores tornaram o vírus ativo de novo para sua identificação — pelo menos em animais de laboratório.

Lupa para detectar o HIV

Cientistas da Universidade da Carolina do Norte e da Universidade Emory, ambas nos Estados Unidos, usaram um novo composto, chamado de AZD5582, para ativar os linfócitos, que estão infectados latentemente, no sangue e em outros tecidos do corpo humano, permitindo sua identificação. É como se a substância fosse capaz de identificar e sinalizar o esconderijo do HIV. 

O co-autor do artigo publicado na Nature e professor de medicina na UNC, J. Victor Garcia explica que “anteriormente, ninguém havia testado com sucesso uma molécula de reversão de latência diretamente em humanos ou em um modelo animal com células humanas, demonstrando indução sistêmica do HIV no sangue periférico, em células T CD4 + [os linfócitos] em repouso de múltiplos tecidos.”

Para Ann Chahroudi, professora associada de pediatria UE e co-autora do estudo, “esta é uma conquista científica emocionante, e esperamos que este seja um passo importante para um dia erradicar o vírus em pessoas vivendo com HIV.”

A questão é que, por vários anos, os cientistas buscaram por agentes que revertessem a latência dessas células. Assim, o HIV se tornaria visível para o sistema imunológico e ele poderia enviar uma resposta imune e antiviral que eliminasse as células infectadas. 

Já o co-autor e diretor do HIV Cure at ViiV Healthcare, Richard Dunham, explica que “estamos empolgados por termos agora, pela primeira vez, uma ferramenta simples e tratável para testar a hipótese de longa data de que a ativação do HIV latente pode expor o reservatório viral à depuração.”

Fase de testes

A primeira parte dos testes foi realizada na Faculdade de Medicina da UNC com camundongos, com os mesmos tipos de linfócitos infectados por HIV presentes em humanos, introduzidos nas cobaias. Durante os testes, foi documentado aumentos no RNA viral no sangue e em quase todos os tecidos dos roedores, incluindo linfonodos, medula óssea, fígado, pulmão e cérebro. Em alguns casos, inclusive, o aumento do RNA viral foi superior a 20 vezes.

Na segunda etapa, essa mesma pesquisa foi feita pela Universidade Emory, só que em macacos rhesus com células infectadas com o vírus da imunodeficiência símia (SIV), onde foram obtidos os mesmos resultados de aumento do RNA viral.

Próximos passos

O estudo norte-americano mostra que o HIV pode ser retirado do “esconderijo”, o que abre uma série de possibilidades para o desenvolvimento de novas terapias que um dia podem levar à cura do HIV.

Embora ainda não esteja claro se a estratégia possa ser reproduzida em seres humanos, esse resultado abre novas maneiras de entender como o HIV é controlado e como sua expressão pode ser manipulada. O grupo de pesquisadores busca iniciar os primeiros estudos com humanos, em segurança, em 2021. (Canaltech)

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