A população LGBTQIA+ ainda enfrenta preconceitos e limitações de acesso quando precisa cuidar da saúde, revela um novo estudo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), publicado nesta segunda-feira (14/10).
As barreiras passam por discriminação em atendimentos médicos, falta de conhecimento dos profissionais de saúde para orientação adequada e desrespeito às identidades de gênero e suas corporalidades.
A pesquisa População LGBTQIA+: diversidade, direitos e acesso a serviços de saúde no Brasil foi feita a partir da análise de estudos anteriores, dados governamentais, publicações oficiais e documentos técnicos, dados e informações produzidos por organizações da sociedade civil que atuam com os direitos LGBTQIA+.
Os pesquisadores também analisaram materiais jornalísticos, além de realizar entrevistas com especialistas e ativistas entre julho e setembro de 2023. O estudo da UNFPA foi realizado em parceria com o Instituto Matizes, com apoio da Organon.
“Os dados não governamentais têm cumprido um papel importante ao permitirem formas de mensuração sobre necessidades de cada identidade do acrônimo LGBTQIA+. Sem essas informações, seria ainda mais desafiador acessar de modo quantitativo o status do acesso a direitos de saúde para a população LGBTQIA+”, consideram os autores do estudo.
Consultas cotidianas
Um quarto das mulheres lésbicas ouvidas no estudo 1º Lesbocenso Nacional: Mapeamento de Vivências Lésbicas no Brasil revelou já ter sofrido algum tipo de violência ou discriminação em atendimentos ginecológicos.
A pesquisa, publicada em 2023, mostrou também que 72,94% delas tinham receio ou constrangimento em revelar a própria orientação sexual em um atendimento de saúde.
“É essencial capacitar os profissionais de saúde para que possam oferecer um atendimento acolhedor e livre de preconceitos, promovendo o direito à saúde e ao planejamento familiar de forma inclusiva e respeitosa”, considera a diretora de relações institucionais da Organon Brasil, Tassia Ginciene.
Vida reprodutiva
Um dos problemas expostos é a falta de preparo dos profissionais de saúde para atender as demandas da população trans. O levantamento mostra que os homens trans muitas vezes não conseguem as orientações necessárias sobre planejamento reprodutivo e métodos contraceptivos.
As dificuldades também se estendem às pessoas que estão constituindo uma família. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT), publicado em 2023, indica que 28,12% dos entrevistados tiveram a identidade de gênero desrespeitada durante a gestação.
“Os exemplos estão relacionados à necessidade de qualificação de profissionais e serviços para responder às necessidades e expectativas da população LGBTQIA+ e à recorrência de abordagens pouco acolhedoras ou sensíveis a seus direitos, havendo relatos de desrespeito às identidades de gênero e suas corporalidades”, afirma a Oficial de Programa para Saúde Sexual e Reprodutiva e Direitos do UNFPA, Anna Cunha.
Saúde mental
A saúde mental é um desafio maior para pessoas LGBTQIA+. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, mostram que a depressão é mais comum nesse grupo.
Enquanto 10,1% dos heterossexuais foram diagnosticados com depressão, essa taxa sobe para 13,2% entre lésbicas e gays e atinge 20,1% dos bissexuais.
Preconceito racial e violência
Pessoas negras LGBTQIA+ sofrem desproporcionalmente mais violência no Brasil. De acordo com o Atlas da Violência 2023, 65% das travestis vítimas de violência são negras, enquanto 31% são brancas.
Entre as mulheres trans que sofreram violência, 58% são negras e 35% são brancas. Cenário parecido é visto entre os homens trans, com 56% sendo negros e 40% brancos.
Também são negras 55,3% das vítimas homossexuais (homens gays e mulheres lésbicas) e 52,2% das vítimas bissexuais (homens e mulheres).
Os autores do estudo recomendam o fortalecimento do compromisso com as pautas relevantes para as pessoas LGBTQIA+, bem como a ampliação de esforços para a criação de políticas públicas mais eficazes, abrangentes e capazes de promover autonomia e dignidade para esta população, sem deixar de levar em consideração as diferenças étnico-racial, de renda, origem, idade e outras.
Fonte: Metrópoles