Por Charles Araújo
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro de 2024, é muito mais do que um simples feriado. Ele carrega consigo um significado profundo e relevante: a memória de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, símbolo de resistência negra contra a opressão e a escravidão. O fato de esse dia ser marcado por um desrespeito flagrante à sua importância, por meio do funcionamento de órgãos e instituições públicas, revela uma hipocrisia preocupante em nossa sociedade.
Zumbi foi morto em combate, em 1695, defendendo o Quilombo dos Palmares. Sua morte, além de representar o fim de uma resistência, simboliza a luta contínua contra o racismo e a desigualdade que, infelizmente, persistem até os dias de hoje. A escolha de 20 de novembro para celebrar essa luta deveria ser uma data de reflexão sobre a história da escravidão no Brasil, suas consequências e a importância de combater todas as formas de racismo. No entanto, vemos muitos órgãos públicos, tanto estaduais quanto municipais, funcionando normalmente nesse dia, como se ele fosse qualquer outro feriado sem relevância histórica.
É uma atitude profundamente desrespeitosa e contraditória para com o povo negro brasileiro. Como é possível que instituições que se dizem defensoras da justiça, da igualdade e dos direitos humanos ignorem a importância de um dia tão simbólico? Se o Dia da Consciência Negra é um momento de refletir sobre o valor da cultura negra, da luta contra o racismo e da promoção da igualdade, como podemos aceitar que, neste dia, os servidores públicos sejam obrigados a trabalhar como se nada disso importasse?
O governo federal, ao instituir o primeiro feriado nacional dedicado à luta contra o racismo em 2024, deu um passo importante e louvável. No entanto, essa medida perde parte de seu significado quando vemos órgãos públicos tratando o dia com desdém. Pior ainda é que os servidores públicos, ao contrário dos trabalhadores do setor privado, que recebem pagamento extra por trabalhar em feriados, não têm direito a essa compensação. Enquanto empresas privadas, mesmo não concedendo o feriado aos seus empregados, pagam hora extra de 100%, o serviço público ignora a data, impondo um trabalho sem reconhecimento adicional.
Isso não apenas desrespeita a luta histórica do povo negro, mas também enfraquece o impacto da própria ação do governo federal. O que deveria ser um dia de celebração e reflexão se transforma em uma demonstração de descompromisso e desrespeito com a verdadeira causa da data. O Dia da Consciência Negra não é apenas uma data no calendário, é um lembrete constante de que ainda há muito a ser feito pela igualdade, pela justiça e pelo fim do racismo estrutural.
Portanto, é essencial que, ao celebrarmos o Dia da Consciência Negra, não apenas as palavras sejam ditas, mas também ações concretas que respeitem a luta que Zumbi iniciou e que ainda persiste em nosso país. Não é suficiente apenas decretar um feriado. É preciso garantir que ele seja tratado com a devida seriedade e que reflita, de fato, a importância da história e da luta pela igualdade que essa data representa. O país precisa aprender a respeitar e a honrar o significado do Dia da Consciência Negra, e isso inclui garantir que, no dia 20 de novembro, ao invés de ver órgãos públicos funcionando como se nada fosse, a sociedade brasileira viva um momento de reflexão verdadeira sobre o racismo e a cultura negra.
