A espiritualidade ocupa um lugar central na vida do brasileiro, refletindo uma cultura onde a fé está presente desde o cotidiano até as esferas de poder. De acordo com a pesquisa Global Religion 2023, do instituto Ipsos, 89% dos brasileiros afirmam acreditar em Deus ou em um poder superior, colocando o Brasil no topo do ranking de 26 países, empatado com a África do Sul e à frente de nações como Colômbia (86%). A média global é de 61%.
Apesar desse índice elevado, apenas 76% dos brasileiros se declaram seguidores de uma religião, mostrando que a crença em Deus nem sempre está atrelada a uma filiação religiosa. Entre os que têm uma religião, 70% se identificam como cristãos (católicos e evangélicos) e 20% não seguem nenhuma. A pesquisa também destacou um crescimento da geração sem religião, especialmente entre os jovens da geração Z, onde 34% afirmam não ter vínculo religioso.
O estudo reflete um contexto em que a religião, além de orientar valores, preenche lacunas deixadas pelo Estado. “Em locais com maior desigualdade ou baixa atuação estatal, a fé oferece consolo e até assistência material”, explica Helio Gastaldi, da Ipsos.
O sociólogo Ricardo Mariano, da USP, destaca que a secularização no Brasil é limitada. “Mesmo movimentos de esquerda, como o PT, têm raízes em correntes religiosas, como a Teologia da Libertação.” Segundo ele, a espiritualidade brasileira não sofre grandes oposições ideológicas, como ocorre em outros países.
Especialistas também associam o crescimento da fé ao impacto da pandemia de Covid-19. “Crises históricas costumam provocar explosões de religiosidade, como no Japão pós-Segunda Guerra”, observa o professor Fernando Altemeyer, da PUC-SP.
A pesquisa foi realizada online entre 20 de janeiro e 3 de fevereiro de 2023, com 19.731 pessoas, sendo mil entrevistados no Brasil.
Charles Araújo, com informações da Pesquisa Ipsos